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1 de fev. de 2015

Volta às Aulas! “Sapientia et augebitur scientia”




A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos”. Platão

Desde quando iniciei a graduação em Filosofia na PUC-SP (2002), ao final de cada semestre tínhamos que escolher as disciplinas a cursar no próximo. Era praxe, nos intervalos, pelos corredores, sondarmos os veteranos buscando informações sobre os docentes.

Sobre a Titular de Filosofia Antiga, a Profª Drª Rachel Gazolla de Andrade, a resposta era unânime e categórica: “Competente, mas muito exigente”. Ao aventar tê-la como orientadora, seja para um TCC, Mestrado ou Doutorado, ironizavam dizendo que isso era buscar “grife”. De fato, por conta da seriedade, seu nome tornou-se paradigma de rigor científico e, até hoje, é essa a fama que a precede.

Exigente, sem dúvida, mas também generosa (éramos orientados a cursar o grego ático, custeado por ela mesma aos que não dispunham de recursos), compartilhando seus saberes aos privilegiados discípulos dispostos a ouvir seu “lógos”.

O estudo da Filosofia passa, necessariamente, pelo debruçar-se sobre a Filosofia Antiga que, indispensável, constitui a base de todo pensamento filosófico ocidental.


Eis que, surpreendentemente, a admirável helenista, com mais de três décadas de “casa”, detentora de vasta e relevante produção acadêmica em pesquisas e docência na área de Filosofia Antiga, editora da Revista Hypnos (classificação B1 no Qualis/Capes, com mais de trinta números publicados), idealizadora e realizadora dos Simpósios Interdisciplinares de Estudos Greco-romanos, evento internacional, promovido anualmente, reunindo os mais renomados helenistas (já na 21ª Edição), fundadora do Grupo de Estudos Platônicos, reconhecida nacional e internacionalmente, a Profª Drª Rachel Gazolla de Andrade, juntamente com outros 49 catedráticos, foi demitida.

A notícia nos deixou perplexos, indignados. Incrédulos, pensamos tratar-se de um equívoco, um lamentável mal-entendido, pois à dispensa de uma produtiva acadêmica, de indiscutível dedicação à Cátedra, não encontramos justificativa.

Considerando que o espanto é o que desencadeia o pensar, a filosofia, somos levados a refletir sobre a perversidade de nosso sistema de governo que, habituado a socorrer bancos e indústrias em crise – por exemplo –, permanece, no entanto, alheio, desatento à importância do apoio e do amparo às universidades.

Dentre os inúmeros ensinamentos, aprendi que “excelência” (cumprir bem àquilo para o qual se destina) em grego é “areté”. Que a “areté” do médico é a cura; a do olho, enxergar bem; a do guerreiro, a vitória e que a “areté” da empresa, é o lucro. Sendo assim, qual é a “areté” da universidade?


Seu “télos”, seu propósito basilar é a ciência, a pesquisa, a formação de seres aptos a pensar e trabalhar pela melhoria do mundo, tarefa que a doutora sempre exerceu com maestria, mantendo acesa a chama do verdadeiro espírito socrático, consolidando a excelência do Curso de Filosofia da PUC-SP.

A contribuição que uma docente dessa estirpe traz à universidade e, consequentemente à toda sociedade é intangível, inabarcável, ainda mais depois de décadas compartilhando sua “philía à sophia”.

Registro meu respeitoso apelo aos dirigentes universitários para que não seja comprometida a qualidade do corpo docente, até porque nesses tempos tão sombrios em que vivemos, não podemos prescindir de brilhantes e dedicados profissionais com os quais a universidade e todos que dela se beneficiam direta e indiretamente, se engrandece.


Reduto de liberdade onde se forma a elite intelectual de nosso país, não podemos traficar a “ratio”, compactuando com a deplorável decadência que, há tempos à espreita, bate à porta do ensino superior, atingindo justamente o cerne de um dos mais nobres componentes de nossa constituição político-social: a cátedra.


No brasão da PUC-SP lê-se: “Sapientia et augebitur scientia”, que em latim significa: “a sapiência e a ciência serão aumentadas”. Que esse lema norteie a todos, constituindo um legítimo símbolo de resistência, de enaltecimento do entendimento e do humanismo.

Desejando a todos feliz “Volta às aulas”, conclamo que não prescindamos de erguermo-nos à luta por nossos ideais. Aliás, sempre foi sobre a relevância do “ideal” que a Mestre tanto nos ensinou. À todos os docentes, especialmente à ela, minha eterna gratidão.


Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da
Galleria Borghese, Roma
lucienefelix.blogspot.com
e-mail: mitologia@esdc.com

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo manifesto, Lu!
Qualquer demissão traz em si algo
de menosprezo. Sendo injustificável,
e, sobretudo, quando se trata da demissão de profissionais
capacitados, voltados para o
ensino-educação, é um verdadeiro absurdo.
Concordo!
Abç, MaVi

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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